Ocorreu o primeiro debate dos candidatos a presidência da República, no Brasil, em 2014. Um debate desse tipo deveria servir para esclarecer o eleitor sobre o que passa na cabeça daqueles que estão pedindo seu voto e para deixar claro, em uma linguagem compreensível ao homem comum, sobre os planos que eles têm para o país. O que vimos, no entanto, não foi nada disso. Parece que o que menos importa é aquele que realmente decide tudo: o eleitor.
O interlocutor não é o candidato adversário; não é para ele que o pretendente ao governo se dirige. É com quem o está assistindo em casa que o político deveria falar. Sua intervenções, seus argumentos, suas propostas deveriam ser ditas de maneira que, além de poderem ser entendidas pelo eleitor ordinário, também chamassem, de alguma maneira, sua atenção.
Isso se chama retórica!
Claro, não em sua conotação pejorativa, mas retórica em seu sentido clássico, como uma forma de discurso que busca convencer os ouvintes a agirem de determinada maneira. No caso, a votarem em determinado candidato.
Mas o discurso retórico, para alcançar seus objetivos, precisa partir daquilo que é compreensível e aceitável por aqueles a quem pretende convencer. Não adianta falar as coisas mais certas do mundo se as pessoas que precisam ser levadas ao reconhecimento de que determinado discurso é o melhor não o compreenderem minimamente e não forem despertadas para ele.
Não é possível que os candidatos, que são pessoas que estão na vida pública há muito tempo, não saibam disso. Não é possível que mantenham a mesma forma de discurso que desperta o interesse apenas de uns poucos cidadãos um pouco mais politizados e nada mais. Não é possível que não usem nenhum instrumento retórico mais contundente para chamar a atenção para o que dizem, tornando suas falas marcantes e tornando-os memoráveis.
A fala técnica, a citação de números e estatísticas, as explicações longas e tediosas têm uma função no discurso, sim, mas servem apenas para a manutenção do status quo. Esses instrumentos servem como fuga das perguntas embaraçosas, para desviar a atenção em relação aos dados comprometedores e para fazer com que as pessoas, mesmo não entendendo muito o que está sendo dito, tenham a impressão que está se falando de coisas justas e corretas.
Portanto, a forma como os candidatos se apresentam nesses debates serve apenas para confirmar aquilo que já está posto. Como suas falas não atingem minimamente o eleitorado, não têm o poder de causar nenhuma mudança nos quadros já definidos. E quem acaba saindo-se melhor, portanto, é sempre o candidato do governo. Isso porque é contra ele que são levantados os dados mais constrangedores e os fatos denunciadores de sua falta de competência.
Portanto, cabe aos candidatos de oposição agirem de maneira diferente. Eles deveriam se preocupar menos com números e com explicações técnicas e mais com “tocar” os espectadores. Deveriam falar para eles, mostrar para eles que são mais que meros políticos, e que entendem os anseios e as necessidades da população. Sua retórica deveria ser mais emotiva, mais enfática. Suas frases mais curtas, mais objetivas e mais esclarecedoras. Deveriam sair da “zona de conforto” e arriscar causar impactos, provocar iras e aplausos, fazer com que a audiência prendesse a respiração por alguns instantes.
Mas, infelizmente, não vivemos os tempos dos grandes oradores. Esses que estão aí não passam de burocratas, formados no seio da tecnocracia socialista, onde aprenderam a entender os objetivos políticos como meros preenchimentos de cargos públicos, de uso de uma máquina estatal que existe para ser instrumentalizadas por eles e seus pares.
Ninguém está querendo mudar muito o que já existe. No fim das contas, eles até podem disputar um cargo aqui, outro acolá, podem divergir em alguns pontos, podem até brigar um pouquinho para saber quem vai ocupar a cadeira no momento, mas, em termos gerais, nenhum deles quer que haja uma mudança substancial, pois a política como está posta é o que os tem sustentado por todos esses tempos.
É por isso que nesses debates, quando há uma oportunidade real para aqueles que se dizem oposição apresentarem para o país o que poderia ser diferente daquilo que está posto no momento, o máximo que se usa é uma ironia sutil, tão sutil que nem o alvo dela a consegue perceber.
Chego à conclusão que, de fato, isso tudo não passa de um grande teatro, criado apenas para dar a impressão que há um jogo democrático aberto e limpo, quando, na verdade, diante de todos, se desenrola uma disputa interna, de burocratas, por cargos públicos.